quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Escolher a vida

A dimensão ética por excelência é a defesa da vida. E a vida não comporta adjetivos. Vida de pobre ou vida de rico. Pele preta ou branca. Índio ou urbano. Simplesmente vida. Para a ética não há adjetivos para qualificá-la. O valor da vida transcende os adjetivos. Ela se define por ela mesma.
Por isso, a ética é intransigente. Soberana. Não cabe qualquer tipo de questionamento. Em todas as circunstâncias ela se impõe. Pode-se perguntar: não seria o aborto um direito da mulher? A vida não cresce dentro dela e por ela? Esse argumento não tem sustentação do ponto de vista biológico. A vida está nela. Não é dela. Segundo, não se pode determinar, à priori, qual o destino de uma vida humana. Que os pais sendo pobres, terão filhos miseráveis, que os pais sendo apaniguados, os filhos terão futuro feliz. O amanhã do ser humano transcende esses parâmetros. Afinal, para que serve o ser humano? Qual a sua finalidade?
Há os que pensam em lutar. Os que constroem a paz. Mas, esse destino é sempre posterior ao nascer. Não se estabelece no ato da procriação. Por isso, a vida não pode ser julgada ou simplesmente cancelada por estar numa perspectiva que imaginamos como futuro improvável.
Doutra parte, precisamos respeitar mais a vida. Ela não pode ser pautada pelo ter. O dinheiro não pode mesurá-la. Nem comporta o argumento de utilidade para uma vida humana. Como se podéssemos falar em vida usada ou vida imprestável. Nenhuma vida é descartável. Todas são possuídas de uma chama que não pertence a qualquer outro ser humano. Pior ainda, não deve sujeitar-se a um poder interposto: o Estado, um plano de saúde, um ato médico, etc.
Como lembrava Santo Agostinho, a vida não se acaba. Fica num lugar indizível. Mas, continua vida, alma, espírito, qualquer coisa que transcende o simples fim. "Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho..."
Estas reflexões surgem agora, quando sou levado a pensar na Campanha da Fraternidade (CNBB) deste ano, com o tema "Fraternidade e Defesa da Vida" e o lema "Escolhe, pois, a vida".
Antonio Mourão Cavalcante

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